Há um hotel no Alentejo que é uma fábrica de chocolates

Um palácio que se transformou em hotel e, depois, em fábrica de chocolates – esta é a história do Royal Cocoa Chocolatier & Palace, a empresa familiar que agora quer apostar na internacionalização.

A dada altura da vida, Moisés Gama decidiu ir à procura de uma segunda casa. “Queríamos algo com vista para o rio”, explica o proprietário do Royal Cocoa Chocolatier & Palace, em Montemor-o-Novo. Viram um prédio em Lisboa que gostaram, fizeram uma proposta, mas antes de perceberem que a mesma tinha sido recusada, Moisés descobriu “uma casinha low-profile” — explica com humor — no coração da cidade alentejana. Tratava-se de um palacete construído em 1895 que, apesar de estar “em mau estado”, encantou imediatamente. “Vi a casa numa quinta, vim visitá-la com a Sandra no domingo e na segunda-feira já tínhamos feito o contrato de promessa compra e venda”, explica. Nascia assim o hotel de charme que agora ganhou mais outra funcionalidade — é também uma fábrica de chocolates.

O chocolates e seus preços

É este o preçário dos chocolates Royal Cocoa Company:

Caixa com 64 bombons – 198€
Caixa com 64 bombons + pinça em prata portuguesa – 348€

Caixa simples com 24 bombons – 58€
Caixa decorada com 24 bombons – 78€

Caixa com 6 bombons – 14,90€

Pode comprar os chocolates aqui.

“Somos, com certeza, o único hotel no mundo com uma fábrica de chocolates”, explica Moisés depois do pequeno-almoço tomado na sala de refeições do seu palacete. A propriedade tornou-se deles em 2010 e foi inicialmente pensada, lá está, como sendo uma casa alternativa, uma espécie de escapatória de férias e fins-de-semana, mas essa ideia durou pouco tempo. “No dia a seguir a termos assinado o contrato, numa terça-feira, fomos de férias. Íamos fazer um périplo pela China, Mongólia, Tibete… Quando aterrámos em Pequim já tínhamos decidido que o palacete seria transformado num hotel de charme”, conta.  No total foram precisos cerca de três anos de remodelações para tudo ficar perfeito — “tivemos de fazer esgotos , telhado e circuitos elétricos todos novos” — e já corria 2014 quando começaram a receber os primeiros hóspedes. Os chocolates são outra história.

Moisés Gama é a cara dos chocolates Royal Cocoa. © Diogo Lopes/ Observador

Moisés gosta de viajar e já deve ter calcorreado meio mundo: foi precisamente numa dessas aventuras que se lembrou do chocolate. “Estava na Nova Zelândia, a percorrer o norte da ilha num todo-o-terreno, a explorar as vinhas dessa zona, quando dei com uma fábrica de chocolates”, conta. Visitou essa unidade de produção e quando percebeu que ela tinha pouco mais de 200 metros quadrados, pensou imediatamente em criar algo parecido no seu palacete. “Tinha a antiga zona do picadeiro por ocupar… Como não percebo nada de cavalos, a lógica era fazer chocolates [risos]”. Começava então outro empreendimento: aprender a fazer chocolates.

“Não sabíamos nada do assunto, por isso tivemos de arregaçar as mangas e aprender”, clama Moisés. Foi então que decidiu apostar a sério no mundo do cacau e tudo começou com vídeos no Youtube e outras informações espalhadas por esse mundo interminável que é a Internet. Aos poucos foi percebendo as bases, mas era preciso mais. Por exemplo: transformariam também a fava do cacau ou trabalhariam com os graus já tratados? Essa foi uma das primeiras decisões que tiveram de tomar.

Percebemos que se comprássemos a fava do cacau íamos ter de o fazer a alguém independente, de modo a que soubéssemos exatamente a origem e tudo isso. Teríamos não só de arranjar alguém que tivesse uma produção de qualidade e que nos desse garantia de que essa qualidade se iria manter ao longo do tempo como também que não fossem vender a sua produção a alguém que chegasse lá e arrematasse por cima — era um tipo de contracto que ninguém iria fazer, mais ainda com alguém que estava a começar.”

Foi mais ou menos por esta altura que começaram a procurar cursos de chocolatier (um chef de chocolates)e, logo a seguir, foi preciso escolher “o melhor equipamento possível” para apetrechar a fábrica. “Fiz um périplo pela Europa, visitando as fábricas de máquinas, para perceber como funcionava tudo”, pesquisa que culminou nas 300 toneladas de bombons por turno — cada um deles é decorado à mão — que hoje conseguem fazer.

O facto de se falar de um hotel, que é um edifício histórico e que também é uma fábrica de chocolates, podia ser suficiente para atestar o quão especial é todo este projeto do Royal Cocoa Chocolatier & Palace, mas há algo que ajuda ainda mais — aquilo que está dentro dos bombons.

A grande maioria dos pequenos chocolates que hoje se encontram à venda são recheados com pastas produzidas industrialmente, muitas vezes de sabor uniformizado, e Moisés quis fugir delas totalmente:

Veja-se uma pasta de avelã, por exemplo: ela sabe mais a avelã do que o fruto em sim, mas a verdade é que depois, para se fazerem bombons, só se pode usar com chocolate com 48 ou 49% de cacau. Se fazem com 60 ou 70, perde-se o sabor.”

A forma de evitar isso foi bastante simples, só bastou serem os próprios a confecionar todos os recheios que usam. Moisés dá dois exemplos deste processo: “O que nós fazemos, com a mesma avelã, por exemplo, é começar com o fruto ainda com casca e depois partimos, pelamos, torramos e trituramos imediatamente antes de produzir, de maneira a preservar todo o sabor”, explica. O que acontece com o recheio de “tangerina de Montemor-o-Novo” (tem este nome porque usam o fruto que nasce nos jardins do palácio) é em tudo semelhante: “Nós desidratamos primeiro para se fazer uma trituração inicial. Depois guardamos para que na altura de produzir apenas seja preciso fazer uma escolha — se não cheira logo a tangerina já não serve — e seguir para uma nova trituração.”

Pormenor da pequena fábrica onde produzem os chocolates. Ela nasceu do antigo picadeiro do palácio. © Diogo Lopes/ Observador

O resultado de tudo isto encontra-se hoje nas 16 variedades de bombons que têm à venda — figo do Algarve e nozes, tâmaras e baunilha, tangerina de Montemor, maracujá, café de Timor, passas e tomilho, limão, sementes de girassol e manjericão, cajú com flor de sal, avelã, caramelo, gengibre, bolota e poejo, damasco, amêndoa e morango — em Portugal (através do site ou no Gourmet Experience do El Corte Inglés, Lisboa). Próximo passo? Levar estas guloseimas do Alentejo para o mundo inteiro, sendo o principal alvo (pelo menos por agora) o Médio Oriente — até já têm os chocolates certificados como sendo Halal.

Nome: Royal Cocoa Chocolatier & Palace
Morada: Lg. Alexandre Herculano, 1, Montemor-o Novo
Reservas: 968 824 475; info@palace.com.pt
Preços: Quartos de 159€ a 289€ com pequeno-almoço